segunda-feira, 9 de maio de 2016

QUAIS AS HERANÇAS QUE A VIOLÊNCIA DO SAPATINHO DEIXA EM SUAS VÍTIMAS?

Medo. Pânico. Transtorno de estresse pós-traumático-TEPT. Depressão. Insônia. Problemas cardíacos. Pressão alta. Problemas renais... Essas são apenas algumas das consequências que as vítimas do Sapatinho “herdam” após sofrer esse tipo de violência. O Sapatinho é uma modalidade de assalto ocasionada por criminosos que invadem a casa do bancário, geralmente Gerente Geral, Coordenador de PAB ou Tesoureiro, sequestram os familiares desse colega e ameaçam ceifar a vida dessas pessoas, caso o funcionário não aja de acordo com as ordens estabelecidas por eles. A maior violência gerada nesse assalto é a psicológica e os traumas remanescentes são muito danosos à saúde desse trabalhador e das outras vítimas.

É o caso, por exemplo, de um colega do Banpará, que foi vítima de Sapatinho, em agosto de 2014, em uma cidade do nordeste do Pará. Ele conta que após o assalto, passou a sofrer com estresse pós-traumático e isso ocasionou o surgimento de diversos problemas de saúde, como insônia, infecções urinárias, perda de peso e, hoje, sofre com um problema grave nos rins, diagnosticada como “Tuberculose renal”.

Embora o caso só tenha sido diagnosticado em março de 2015, o colega narra que já vinha sofrendo constantemente com infecções urinárias e buscando soluções para isso. Ele conta, ainda, que nenhum desses problemas existia antes do assalto. “O problema nos rins apareceu depois do assalto. Ele foi diagnosticado em março de 2015 e estou fazendo tratamento até hoje, com dinheiro do meu próprio bolso. Quando a gente pesquisa sobre o assunto, a gente percebe que o problema nos rins, em muitos casos, decorre de problemas emocionais, que, por sua vez, diminuem a nossa imunidade corporal. E eu só passei a ter problemas emocionais após o assalto, passei a ter insônia, acordo assustado no meio da noite diversas vezes, vivo com medo constante, sair de casa é um problema, pois quando eu volto, fica sempre aquele terror de que alguém pode estar me esperando e a minha família no quintal de casa. Eu transformei a minha casa em uma prisão de segurança máxima, com o salário que ganho, pois não tive apoio nenhum do Banco, mas mesmo assim não me sinto seguro, nem em casa e nem no trabalho”, conta o colega.

A relação entre doenças oportunistas e problemas emocionais, geralmente ligados ao excesso de estresse pode ser confirmado no artigo “Psiquiatria forense: normal, anormal e patológico em perícia cível”, publicado pelo médico perito psiquiatra e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, Dr. Hamilton Raposo de Miranda Filho. No artigo, entre outras coisas, ele diz que “o desequilíbrio na comunicação cérebro-sistema imunológico devido ao excesso de estimulação do sistema hipotálamo/hipófise/supra-renal, na vigência de um estresse prolongado, aumenta a susceptibilidade do organismo para as doenças oportunistas”.

O colega conta ainda que na época do assalto, o Banpará pagou “umas três sessões de terapia com o psicólogo e depois não teve mais nada”. O problema se intensifica quando se percebe que, na cidade em que o colega reside e trabalha, não há médico disponível para esse tipo de atendimento. Na época, o colega pediu para ser transferido, mas as únicas opções que o Banpará ofereceu foram cidades mais interioranas ainda, que também tinham problemas de falta de estrutura e o bancário ainda sofreria com perdas salariais, pois seria transferido para uma agência de nível abaixo da que gerenciava.

Quando eu pedi a transferência, eu queria que eles me oferecessem uma cidade em que eu tivesse acesso à médicos, psicólogos, e qualquer outro profissional que me ajudasse a cuidar da minha saúde, que na época era só problema emocional, de estresse e medo. Mas eles não ofereceram um lugar melhor, a impressão que eu tive é que eles só ofereceram algumas cidades para ficar registrado que ofereceram e que eu não quis aceitar, mas não foi isso. Se fosse pra ir pra um lugar com menos recursos, então eu preferia ficar aqui. E mesmo assim a minha saúde piorou muito. Agora, todos os meses eu tenho que ir à Belém, às vezes até duas vezes no mês, e os custos são muito altos, chego a gastar quase mil reais por cada consulta”, finaliza o colega.

O caso do colega do nordeste do Pará é específico, mas não é o único que ocorre entre os colegas do Banpará que já foram vítimas dessa violência. Podemos citar vários outros colegas que mudaram de casa ou de cidade em busca de segurança, que passaram a sofrer com problemas cardíacos, pressão alta, crises de pânico, insônia, falta de apetite e outros que ainda nem conseguiram retornar ao trabalho, assim como colegas que pensaram em suicídio. Os traumas são imensos, intensos e as consequências também.

UNIDOS SOMOS FORTES!

A DIREÇÃO DA AFBEPA

Texto: Kamilla Santos
Assessora de imprensa

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